(Ainda não há morangos mas vale a pena falar sobre o assunto.)
São dois morangos. Poderíamos dizer que são “apenas” morangos, mas não estávamos a dizer tudo.

Dizer que produzimos morangos (assim como produzimos seja lá o que for), não diz nada sobre como os produzimos.

Os videos do Xico (pode ver AQUI) a falar sobre o modo como produzimos os nossos morangos, fez-me pensar no assunto: comunicação.

É que produzir morangos como nós o fazemos tem que ser comunicado. O valor extra dos nossos morangos não está no sabor. O sabor é só e apenas uma consequência das práticas que usamos. O valor está no todo. No como plantamos, que produtos usamos, como os cuidamos.

Produzir morangos na Quinta do Arneiro quer dizer, de um modo mais básico, produzir com a maior qualidade possível, produzir morango na sua época, produzir tendo sempre em conta o meio envolvente, e o equilíbrio do ecossistema. Usar apenas fertilizantes naturais, controlar as ervas (infestantes) através de meios mecânicos, fazer o controle de pragas com a ajuda de auxiliares (insectos bons que nos ajudam a controlar os maus) através de várias práticas, como por exemplo a sementeira de flores nas bordaduras que os vão atrair e convidar a permanecer por ali ou mantendo áreas “incultas” (bandas ecológicas) porque sabemos que são as melhores casas para os nossos auxiliares. Nunca plantamos os morangueiros no mesmo local, achamos obrigatório fazer rotações anuais, só assim evitamos a instalação de doenças que seriam muito mais difíceis de controlar.

Mas quer também dizer que optamos por escolher uma variedade mais sensível mas muito mais saborosa. Que tem humores. Cujas plantas são até um pouco caprichosas mudando de humor como quem muda de camisa o que nos abriga a olhar para elas quase que diariamente para, se for o caso, as ajudar com algumas mezinhas naturais que, rezamos, para que resultem. Cujos frutos se sentem quando chove, quando faz muito calor, quando há humidade no ar. Numa semana temos morangos lindos, na outra podem perder completamente a capacidade de conservação, para logo na seguinte voltarem ao seu melhor… são assim as nossas plantas. Se valem o esforço? claro. Mas só valem porque temos clientes que sabem disto tudo e que não nos deixam esmorecer nem naqueles dias em que corre tudo mal.

Produzir morangos em modo biológico quer dizer que é absolutamente proibido o uso de químicos de síntese. E é isso, não diremos que é “apenas” isso, mas é isso. É possível produzir morangos biológicos fora de época. É possível ter uma monocultura de morangos biológicos.

Produzir morangos em modo convencional quer dizer assim de um modo mais básico, produzir a maior quantidade possível no mais curto espaço de tempo possível. Não é por vontade do agricultor mas por vontade do baixíssimo valor que o mercado teima em pagar. Produzir a baixo custo obriga a usar todas as “armas” ao seu alcance. Usar herbicida para controlar as ervas (termos técnico :infestantes), implica adubar muito para fazer crescer muito, implica tratar muito para evitar qualquer praga que pense em atacar, implica forçar a produção para começar a colheita o mais cedo possível. É a produção fora de época que lhe dá valor acrescentado. Tudo mal, tudo ao contrário. Porquê? pergunta. Porque o consumidor exige. Exige não tendo consciência que quanto mais exige menos qualidade recebe.

Ouvir dizer que os nossos morangos são deliciosos, são os melhores do mundo, é maravilhoso. Mas muito mais maravilhoso será saber que os acham maravilhosos porque conseguimos comunicar o modo como são produzidos.